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VÍDEO: em recuperação com a família, árbitro agredido projeta retorno aos gramados no próximo ano

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Foto: Marcelo Oliveira (Diário)
Rodrigo, o filho Alexandre e a esposa Maiara

Em casa, sem exercícios físicos e até mesmo sem poder brincar e erguer no colo o filho de um ano e dois meses. É assim que Rodrigo Crivellaro se recupera há quase três semanas da agressão sofrida durante uma partida da Divisão de Acesso. O árbitro de 29 anos usa um colar cervical que o impede de mexer o pescoço 24 horas ao dia, até na cama ou no banho, e deve permanecer assim ainda por mais de dois meses. Cansado de toda a repercussão na mídia, ele concedeu ao Diário uma última entrevista antes de entrar em um período "offline" ao lado da esposa, Maiara Horn Damke, e do filho, o simpático Alexandre. Passados alguns dias, Rodrigo conseguiu ter noção da dimensão do fato.

- Caiu a ficha. Depois de milhares de mensagens, entrevistas. O mais difícil é mesmo a parte psicológica. Um cara superativo que não pode mais fazer exercício físico em três meses, só em casa. É a parte mais complicada - disse.

No dia 4 de outubro, Crivellaro saiu de Santa Maria, onde reside desde 2006, para arbitrar a partida entre Guarani e São Paulo, pela Divisão de Acesso. Mais um entre tantos jogos em que trabalha há nove anos por torneios oficiais da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) ou na várzea santa-mariense. Aos 14 minutos da segunda etapa, o árbitro mostrou cartão amarelo ao jogador William Ribeiro, do São Paulo, por reclamação. O que se seguiu foi uma agressão bárbara, raramente vista em campos de futebol. William socou Rodrigo, que caiu no chão. Na sequência, o jogador acertou um chute na nuca do árbitro de Santa Maria, que desmaiou e teve de ser levado ao hospital. William saiu do estádio preso preventivamente por tentativa de homicídio.

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Em casa, a esposa Maiara não acompanhava a partida, pois cuidava do filho, que estava resfriado. Ela foi avisada por telefone, por um tio de Rodrigo. Foram momentos de angústia, pois o hospital não dava informações do estado de saúde do marido pelo telefone. Em seguida, ela viu o vídeo, que viralizava nas redes sociais.

- Quando eu vi a cena, fiquei sem chão. Ali, já pensei o pior - relata.

Ela só reviu o marido no dia seguinte, à tarde, em um quarto de hotel em Venâncio Aires.

- Abri a porta do quarto e perguntei: "Amor, você está bem?". Então ele me pediu um abraço. Ninguém está preparado para uma situação assim - conta Maiara.

RECUPERAÇÃO

O árbitro e personal trainer não vai precisar passar por cirurgia, mas o colar cervical deve ser usado por 90 dias após a agressão para que a lesão na vértebra cure. Todas as semanas, Crivellaro passa por exames de raio-x para rever a situação clínica.

Após a agressão, tudo mudou. Rodrigo perdeu a renda da arbitragem e dos alunos das atividades físicas. A FGF e o Sindicato dos Árbitros de Futebol do Rio Grande do Sul (Safergs) bancaram despesas médicas e auxiliam a família com ajuda de custos. Maiara é dona de casa.

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Rodrigo pretende voltar a arbitrar, mas passará antes por apoio psicológico. Se tudo der certo, ele quer estar pronto para o teste físico da FGF em janeiro.

- Não sei como vai ser o sentimento quando voltar. Talvez de mais atenção, um pouco ressabiado - conta.

A esposa apoia a decisão.

- Se ele quer voltar a trabalhar, é o sonho dele, a realidade que ele terá que enfrentar. A gente espera que a partir do que aconteceu mude esse ambiente. Mas, se não mudar, ele vai ter que se adaptar se quiser continuar. Com certeza, a gente vai ficar com o coração na mão em casa. É o que sempre digo para ele: a decisão que ele tomar, vou apoiar - disse Maiara.

Em casa, Rodrigo ocupa tempo com o filho, lendo livros ou artigos. Ele não pode realizar esforço físico, e nem mesmo erguer o filho do chão.

- Ele (Alexandre) sente muito que o Rodrigo não pode pegar ele no colo. O Alexandre fica nas pernas dele, estende os bracinhos pedindo colo, atenção, chama ele pra brincar, e o Rodrigo não pode - conta a esposa.

REPERCUSSÃO

O caso teve repercussão internacional. Nos dias seguintes a agressão, Rodrigo foi notícia em veículos de abrangência nacional, e deu entrevistas para programas como Altas Horas e Esporte Espetacular. No perfil pessoal do Instagram, o árbitro ganhou mais de mil seguidores.

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- É um carinho de todos. É algo que aconteceu, e todos ficaram do meu lado. Vários árbitros do Brasil inteiro e outras pessoas que nem conheço mandando mensagens de apoio, dizendo que vai ficar tudo bem - conta.

Crivellaro recebeu mensagens de árbitros famosos, como Carlos Simon, Sandro Meira Ricci e Leonardo Gaciba.

Foi uma "semana louca", de contatos frequentes da imprensa. Mas a partir de agora, a ideia é se resguardar e descansar.

INDIGNAÇÃO

William Ribeiro foi autuado por tentativa de homicídio e suspenso do futebol por dois anos pelo Tribunal de Justiça Desportiva, punição máxima no âmbito esportivo. Rodrigo considera a punição pequena, e pede pelo banimento total do jogador, que teve o contrato rescindido com o São Paulo.

Até hoje, Ribeiro não fez um pedido de desculpas. No tribunal, o atleta se disse arrependido e que busca atendimento psicológico.

- Ele não entrou em contato comigo em momento algum. O perdão, a gente precisa, deve perdoar tudo o que acontece, todas as pessoas. Isso é Deus que fala. Quanto ao que ele falou no tribunal, certamente foi uma desculpa. Acho que foi premeditado, pensado. Não é possível que um jogador faça o que ele fez por causa de um cartão amarelo, nada justificaria. Não tem explicação. A culpa é totalmente dele e do clube, de ter um jogador desses no plantel - avalia Crivellaro.

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Além da recuperação, a luta do árbitro de Santa Maria agora é por alterações nos protocolos e regras da justiça esportiva.

- A gente precisa lutar pelos nossos direitos, pela mudança nessa lei. Por uma justiça mais rigorosa. Se não, a violência vai continuar no futebol. Infelizmente, no Brasil, tem que acontecer sempre o pior para algo ser mudado. Espero que quem tenha pode no futebol faça alguma coisa. Isso não pode cair no esquecimento - conclui.

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